sexta-feira, 13 de julho de 2012

Comecei a entender que não eram lembranças minhas. Com quatro memórias novas, eu já não sentia a alegria delas. Pelo contrário. Elas me traziam tristeza. Uma memória que este homem perdeu. Uma memória boa. Excelente eu diria. Possivelmente a melhor lembrança da vida deste homem. Aparentemente, eu não tomava qualquer memória. Era a melhor lembrança da vida dele. O momento mais feliz da sua vida. Aquela memória que trazia sentido em seu mundo. E na ausência dela a segunda melhor. Depois a terceira, e assim sucessivamente. Era uma habilidade ingrata e sem coração.

Eu descobri mais uma característica interessante da minha habilidade mais tarde naquele dia. Quando as memórias boas acabam, quando os únicos momentos que você consegue lembrar, são momentos de tristeza, dor e angustia, minha habilidade para. Ela tem como alvo, apenas as lembranças boas. Sempre começando pelas melhores. Acabei descobrindo este fato com Cássio. E confirmei ele com sua mulher. Como não consta nesse relatório, eu não saberia dizer o que passou pela minha cabeça. O que consta no meu relatório é que duas semanas depois, Cássio se jogou de uma ponte e sua mulher tomou dois frascos de anti-depressivos. Em seu bilhete de suicidio, ela pediu desculpas para sua filha e escreveu que prefiria morrer do que viver com a incerteza do esquecimento. Eu entendo eles. Uma vida sem memórias é uma vida vazia. Uma vida que acaba perdendo o sentido.

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