terça-feira, 4 de setembro de 2012

O lobo temporal, além de ser responsável pelo gerenciamento da memória, também processa os estimulos auditivos. Por isso, estimulos auditivos são a melhor forma de ativar a memória. É fisicamente mais fácil lembrar de uma voz, do que um rosto. A felicidade sentida quando se ouve a voz de uma pessoa amada, se dá pelo fato de aquele som te lembrar imediatamente dela.

Fico feliz eu disse. Bernardo me olhou confuso. Sua filha, eu continei, Aline. Casou com um bom rapaz. Parabéns. Vestindo novamente a minha luva, olhei dentro dos olhos confusos de Bernado, sorri e sai do quarto, me dirigindo ao próximo da lista. Adicionar memórias a minha coleção. Este é o meu real objetivo na instituição. Testar minha habilidade. Descobrir mais sobre ela. Tentar entender o que a desencadeia, se existe imunidade contra ela e, o que eu acabei descobrindo neste dia, se a pessoa precisaria se lembrar da memória roubada. Apartir daquele dia, eu tive a convicção de que minha habilidade me manteria vivo. Me manteria são.

Depois desta instituição, visitei um presidio, um grupo de ajuda a parentes de esquizofrênicos, para descobrir se memórias forjadas também poderiam ser roubadas, e uma faculdade de medicina. Em uma semana, matei cinco pessoas no “microondas”, achei uma sacola de dinheiro perdida de um assalto a banco, escalei o Mount Everest, me tornei o primeiro ser humano a colonizar Marte, fiz um menage a “cinq”, por assim dizer, com quatro lindas universitárias, domei três rinocerontes selvagens e os treinei como cachorros e me formei com summa cum laude.

As primeiras memórias que eu roubei, tinham um tempo de absorção de aproximadamente dez segundos. Durante este tempo, eu entrava em um estado catatonico, enquanto absorvia a memória roubada. Depois destas visitas, este tempo foi reduzido para quatro segundos. Hoje, é instantaneo. Outro fato interessante é que minha nova memória é eidética. Eu lembro de todos os minimos detalhes, de todas as memórias que eu roubei. Mas isso me trouxe alguns problemas. A medida que as memórias foram acumulando, eu comecei a esquecer delas. Não completamente, mas só conseguia lembrar depois de algum estimulo. Ouvir um novo, ver um anuncio na TV ou comer batata frita por exemplo. Quando comecei a notar esse fenomeno, eu comecei a catalogar todas as memórias que eu roubava. Coloquei tudo em um planilha de Excel devidamente indexada e com diversos filtros. Ontem registrei minha memória de número 6423 de 3023 pessoas.

sábado, 28 de julho de 2012

Resolvi visitar uma ONG que ajuda idosos portadores do Mal de Alzheimer. Entrei com o pretexto de fazer trabalho voluntário. Algumas das enfermeiras que trabalhavam na ONG me reconheceram. Todas disseram que ficaram muito emocionadas com minha matéria no Faustão. Segundo Amélia, a enfermeira que me guiava pelo complexo, esta ONG cuida de centenas de pacientes anualmente. Amélia frisou bem que eles cuidam dos pacientes e não tratam. O objetivo da clinica era deixar seus pacientes confortáveis. Estar ali por eles. Ela abriu um sorriso. A maioria das pessoas vivendo na instituição, eram completamente sozinhas. Para essas pessoas, os funcionários da instituição eram sua única família. Ela me disse que nos cinco anos que ela trabalha aqui, não pressenciou nenhuma demissão. Pelo contrário, apenas foram feitas novas contratações. Eles eram uma grande e feliz família.

Passando por um corredor na área onde os dormitórios estavam localizados, Amélia começou a contar a estória de alguns pacientes. É importante conhecer as pessoas, ela disse. Só assim você se importa o bastante para ajudar elas com toda sua alma. Pegue o senhor Carlos por exemplo, ela continuou, faz dez anos que ele mora aqui e nunca recebeu uma visita, uma carta ou um telefonema. Abandonado pelos três filhos, Carlos só consegue se lembrar de seu nome e do nome de sua falecida esposa, Matilde. O senhor Agenor tinha uma estória igualmente triste. Mês que vem será seu segundo aniversário na instituição. Foi encontrado no centro, vestindo apenas suas meias. Agenor não possui nenhuma memória. A única coisa que le faz, é andar pela instituição, observando com olhos tristes tudo a seu redor.

Saindo dos dormitórios, Amélia começou a me explicar o objetivo da instituição. O Mal de Alzheimer é uma doença cruel, ela começou dizendo. Por não conseguirem se lembrar, terem perdido a capacidade de produzir novas memórias, essas pessoas não tinham espaço na sociedade. Desempregados, incapazes de conhecer novas pessoas ou aprender coisas novas, essas pessoas são tratadas como produtos que tiveram sua validade expirada. E não era exagero. A maioria das pessoas aqui foram abandonadas, ou estavam perdidos antes de serem socorridas. O ambiente era extremamente agradável, graças ao trabalho extraordinário dos funcionários, mas existia um odor no ar. O instituto inteiro fedia a tristeza. Um forte cheiro de solidão, exalava dos pequenos quartos. Quando os pacientes se reuniam na área de convivência para executar diversas atividades, a sala cheirava a dor.

Próximo ao termino no tour, tive que tomar uma decisão. No final, Amélia estenderia sua mão para me comprimentar, formalmente me desejando boas vindas. E junto com as boas vindas, eu receberia uma memória. Pela paixão e alegria que Amélia expressava ao falar da instituição, sua melhor memória estaria relacionada com a ONG. Seria uma memória altruista, genuinamente boa e sincera. Uma memória de uma pessoa dedicada a cuidar de outras pessoas. Tive medo. Essa memória mudaria meu modo de pensar. Minha vinda a este lugar, ganharia um outro sentido. Um sentido mais nobre inclusive. Eu provavelmente não roubaria outra memória. Não seria capaz de fazer isto de novo. Coloquei as mãos no bolso e suspirei. Amélia perguntou se eu estava bem. Olhei para ela com um sorriso e respondi que sim. Só estava com um pouco de frio. E rapidamente vesti as luvas que tirei do meu bolso esquerdo. Bem melhor eu disse. Ela abriu um sorriso. Tá meio frio mesmo.

Assim que completamos o tour, Amélia me comprimentou, formalizou as boas vindas e me entregou uma prancheta. Nela, uma lista de pacientes, onde em cada item estava o nome do paciente, o número de seu quarto e atividades que deveriam ser executadas. As mais frequentes eram abrir janelas, conversar por no mínimo trinta minutos e verificar estado do paciente e do quarto. O primeiro da minha lista era Bernardo Domingos, quarto 183. Conversar, abrir janelas e andar por vinte minutos. Ao chegar em seu quarto, encontrei Bernardo sentado em uma cadeira próxima a cama. Me aproximei e o comprimentei. Educadamente ele retribuiu o aperto de mãos e começamos a conversar. Bernardo apenas se lembra de partes pequenas e sem conexão de seu passado. Mas se lembra muito bem de dados sobre sua vida. Como por exemplo, o endereço completo, telefone e tempo de estadia de todas as casas onde morou. Ele conhece estes dados, mas é incapaz de lembrar qualquer detalhe da casa em si. Passados quarenta minutos de conversa eu retirei minha luva direita, me levantei da cadeira onde estava sentado, e estendi minha mão a Bernardo. Ele se levantou e apertou minha mão com um sorriso.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Em meus primeiros relatórios, quando comecei a perder a minha memória, eu estava abalado. Eles não detalhavam o dia com a precisão necessária. Na verdade, eles são praticamente desabafos. A tristeza do esquecimento é um sentimento pesado e doloroso. Eu não consigo aprender nada novo. Não consigo conhecer novas pessoas. Minha vida está em suspensão. Me encontro parado no tempo. Eu sou um coadjuvante em Groundhog Day. Com a diferença que apenas minha mente não evolui, meu corpo entretanto, envelhece normalmente. Cada dia que passa é mais uma luta para sobreviver. Acordar de um sono de 20 anos, não é fácil.

Felizmente, eu adoro viver. Esse sentimento aliado com minha habilidade, tem me mantido vivo. Depois de provocar, mesmo que acidentalmente, o suicidio de Carlos e sua esposa, eu resolvi testar minhas habilidades e no processo colecionar algumas memórias. Colecionar memórias. Ouvi esta expressão pela primeira vez com meu avô. Em seu leito de morte, ele pegou em minha mão e disse, com uma voz rouca e debilitada. A única coisa que levamos dessa vida sofrida meu neto, são nossas lembranças. Colecionar memórias. Viver se resume a colecionar memórias. Apertando minha mão carinhosamente, ele abriu um sorriso e fechou seus olhos pela última vez.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Comecei a entender que não eram lembranças minhas. Com quatro memórias novas, eu já não sentia a alegria delas. Pelo contrário. Elas me traziam tristeza. Uma memória que este homem perdeu. Uma memória boa. Excelente eu diria. Possivelmente a melhor lembrança da vida deste homem. Aparentemente, eu não tomava qualquer memória. Era a melhor lembrança da vida dele. O momento mais feliz da sua vida. Aquela memória que trazia sentido em seu mundo. E na ausência dela a segunda melhor. Depois a terceira, e assim sucessivamente. Era uma habilidade ingrata e sem coração.

Eu descobri mais uma característica interessante da minha habilidade mais tarde naquele dia. Quando as memórias boas acabam, quando os únicos momentos que você consegue lembrar, são momentos de tristeza, dor e angustia, minha habilidade para. Ela tem como alvo, apenas as lembranças boas. Sempre começando pelas melhores. Acabei descobrindo este fato com Cássio. E confirmei ele com sua mulher. Como não consta nesse relatório, eu não saberia dizer o que passou pela minha cabeça. O que consta no meu relatório é que duas semanas depois, Cássio se jogou de uma ponte e sua mulher tomou dois frascos de anti-depressivos. Em seu bilhete de suicidio, ela pediu desculpas para sua filha e escreveu que prefiria morrer do que viver com a incerteza do esquecimento. Eu entendo eles. Uma vida sem memórias é uma vida vazia. Uma vida que acaba perdendo o sentido.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Para não perder o costume, mais um excerto dO Colecionador de Memórias.

Mas eu lembrei do que havia acontecido com Cássio. E não tive escolha a não ser perguntar qual a primeira palavra que Joana falou. Mãe, ela respondeu. Perguntei se ela lembrava disso. Se ela lembrava de Joana falando a primeira palavra. E eu vi pela segunda vez segundo meus relatórios, o olhar do mais puro e verdadeiro desespero. Ela não lembrava. O momento mais feliz de sua vida, e ela não lembrava absolutamente nada dele. Eu lembrava. Como se eu tivesse vivido. A mulher de Cássio estava petrificada. Ela tentava, em vão, encontrar uma resposta para seu esquecimento. Ao colocar a mão em seu ombro despido, para tentar consolar ela, senti uma nova tontura. A igreja tinha ficado linda. As flores, os convidados, até o padre estava perfeitamente alinhado. E o meu vestido. Tudo estava perfeito. Olhando fixamente nos olhos de Cássio, dei a resposta mais importante da minha vida. Sim. Eu estava casado.

Nada mais fazia sentido. Primeiro a primeira palavra da sua filha. Agora seu casamento. Estava completamente perdido. Olhava para a mulher de Cássio sem expressão. Ela secou suas lágrimas e se desculpou. Disse que estava cansada, não havia dormido direito. Minha mente está me pregando peças, ela disse. Me convidou para entrar. Eu precisava entender isso melhor. Infelizmente eu tomei a decisão errada. Eu agradeci e entrei em sua casa. Cássio estava em um canto da sala olhando fixamente para sua estante. Chamei seu nome e me aproximei dele. Saindo de um transe, ele olhou para mim com um sorriso e apertou minha mão. E me deu mais uma memória. Ele então, colocou sua mão esquerda sobre a minha mão direita e continuou balançando ela. É claro que sem antes, me presentear com mais uma de suas memórias. As tonturas sumiram.

domingo, 8 de julho de 2012

E mais um trecho dO Colecionador de Memórias! Não deixem de deixar sua opinião e compartilhar para todos! =)

Eu não tenho memória deste olhar. O eu de hoje desconhece essa visão. Se isto é uma benção ou uma maldição, somente o tempo dirá. Ele começou a balbuciar algumas palavras. Lágrimas começaram a escorrer de seu rosto. Ele só conseguiu falar duas palavras. Não lembro. Visivelmente abatido, ele abriu um sorriso timido e me deu as costas. Chorando silenciosamente, ele voltou para casa. Eu não entendia o que havia ocorrido. Por que eu tenho essa memória? Por que ele não lembrava dela? Fiquei o dia inteiro procurando uma resposta lógica. Sem sucesso é claro.

Acordei no dia seguinte lembrando do nascimento de Joana. O mais perturbador disso, foi que eu lembrei do nascimento de Joana. Um dia depois de ter “vivido” a memória. Eu não entendi nada. Depois de ler o relatório do dia anterior pelo menos a origem da lembrança me foi revelado. Mas as perguntas continuavam. Aparentemente eu não havia conseguido responder elas no dia anterior. Resolvi ir na casa deste meu amigo. A mulher dele atendeu a porta. Ela me reconheceu e me comprimentou com um beijo no rosto. No momento que seus lábios tocaram minha face, senti novamente a tontura. Então eu lembrei de quando Joana falou a primeira palavra. Mãe. Eu estava terminando de secar ela, depois de um banho, quando ela olhou para mim e disse mãe. Fiquei sem palavras. Uma tímida lágrima escorreu do meu olho esquerdo e eu perguntei para Joana o que ela havia falado. Mãe ela disse novamente. A minha filha, com aquele rosto angelical, toda fofa, disse “mãe”. Eu abracei ela e comecei a chorar. Cássio entrou desesperado, achando que algo grave havia acontecido. Quando contei ele ficou feliz, mas um pouco decepcionado eu acho. Para mim foi possivelmente o melhor momento da minha vida. Quando abri os olhos, lágrimas escorriam pelo rosto. A mulher de Cássio visivelmente confusa perguntou se eu estava bem. Estou, eu respondi enquanto secava uma lágrima de meu rosto. Na verdade eu estava muito bem. Aquela lembrança me encheu de alegria e esperança.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Mais um trecho dO Colecionador de Memórias.

Depois da perda de memória, eu desenvolvi, por falta de melhor palavra, uma habilidade. Uma habilidade extremamente interessante. Esta habilidade foi responsável pela mudança em minha vida. No final de fevereiro eu estava indo ao mercado e encontrei um amigo na rua. Ao apertar sua mão, senti uma leve tontura. Ao fechar meus olhos para retomar o eliquibrio, lembrei de um hospital. Eu estava nervoso. Nervoso e extremamente feliz. Andava em circulos, roendo as unhas e sorrindo. Imaginando os anos que virião. Era o dia mais feliz da minha vida. O nascimento da minha filha. Joana foi o nome que eu e minha mulher escolhemos. Em homenagem a Jeanne D’Arc. Quando o médico entrou na sala de espera e me deu os parabéns, lágrimas da mais pura alegria escorreram pelo meu rosto. Eu era pai.

Quando abri os olhos estava chorando. Chorando do mesmo jeito que chorei aquele dia. E então eu lembrei. Eu não tinha uma filha. Nunca fui casado. Eu não tenho essa memória. Eu não vivi esse momento. Larguei a mão do meu amigo e perguntei se ele tinha uma filha. Ele abriu um sorriso e disse que sim. Que a pequena Joana era a coisa mais importante da vida dele. Joana. O nome da minha filha. Seus olhos brilhavam. Do mesmo jeito que os meus olhos brilhavam naquele dia. A simples menção de sua filha, enchia esse homem de alegria. Perguntei se ele lembrava do parto dela. Ele riu e respondeu com orgulho que sim. E então eu vi, pela primeira vez ao vivo, o olhar do mais puro e verdadeiro desespero. Um buraco abriu em meu peito.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Seguindo o cronograma, segue abaixo mais um trecho do primeiro capítulo dO Colecionador de Memórias.

Eu aprendi que médicos são seres fofoqueiros. Dois dias depois de sair do hospital, meu nome estava em alguns jornais. No dia seguinte nos maiores jornais nacionais. Depois em telejornais e jornais mundiais. Sinceramente, eu, até hoje, não entendo como isso aconteceu. Mas os 15 minutos de fama em si, chegaram na semana seguinte. Faustão, Fantástico, Mais Você. Foi legal. O problema foi quando o meu mês de vida acabou. E eu, obviamente, não morri. Depois de vários exames e mais duas semanas no hospital, recebi uma notícia interessante. O tumor havia parado de crescer. Sem antes trocar meu lobo temporal inteiro com, e eu cito, conexões neurais nunca antes vistas. Conexões estas que foram construidas pelo tumor. E parou. Os médicos ficaram impressionados. O tumor parou com precisão milimétrica. Como se o objetivo dele fosse reconstruir meu lobo temporal. E mais nada. Eu continuei vivo. E bem, devo dizer. Pelos menos por seis meses.

Primeiro foi a memória. Eu consiguia lembrar com perfeição o dia 17 de agosto. O dia 18 de agosto em compensação, não existia em minha memória. Nem o dia 19, muito menos o dia 20. Depois do dia 17 de agosto minha memória se estendia a uma semana atrás. E no começo de setembro, eu comecei a só lembrar o dia de hoje. Eu durmo e esqueço completamente o dia anterior. Pode-se dizer que eu renasço todas as manhãs. Minha sorte é meu gosto por escrever. Apartir do momento que percebi que minha memória estava falhando, comecei a fazer uma espécie de relatório diário. Descrevia tudo o que aconteceu naquele dia. É através desses relatórios que é possível esse relato.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Como prometido, segue abaixo os dois primeiros parágrafos dO Colecionador de memórias. Novamente peço que deixem suas opiniões. Obrigado! =)

Capítulo 1

Eu tinha 26 anos. Carreira promissora, apartamento legal e solitário. Meu apartamento estava constantemente com visita. Sempre cheio. No final do dia, entretanto, era apenas eu. Não tinha uma vida infeliz, pelo contrário. Tive amores, várias namoradas e casos. E minha lista de amigos não era exatamente pequena. Mas desde que sai da casa de meus pais, um sentimento de solidão, constantemente, me acompanha. Diariamente tentava me alegrar lembrando os melhores momentos da minha vida. Revivendo aquele primeiro beijo. Lembrando quando vi o resultado do vestibular e, com a pior nota geral, consegui entrar na faculdade. E, por mais patético e deprimente que isso fosse, funcionava. Eu já era um Colecionador de Memórias sem saber.

A nova fase da minha vida começa numa tarde ensolarada de terça, dia 17 de agosto daquele ano, para ser exato, senti uma forte dor de cabeça e um pouco de enjôo. Dores de cabeça não eram novidade para mim, mas essa foi excepcionalmente forte. E o enjôo me pegou de surpresa. Alguma coisa estava bem errada. A dor chegou rápido e com fervor. Fui imediatamente ao médico. Não podia vacilar. E fiquei internado por duas semanas. Os primeiros três dias foram tranquilos. Bem tranquilos na verdade. Pedi para trazerem meu notebook e fiquei três maravilhosos dias de jogatina. The Witcher 2, The Amazing Spider-Man e o, já eterno, Diablo III. Foi no quarto dia, no meio de uma batalha fervorosa contra o Diablo,  que me deram a pior notícia da minha vida. Eu tinha um tumor no lobo temporal. Só que não qualquer tumor. Um tumor novo que estava destruindo, e reconstruindo meu cérebro. Os médicos não sabiam o que fazer. Eu não sabia o que fazer. O meu Demon Hunter não sabia o que fazer. Neste momento que bate o caminhão sem freio. Baseado na taxa de crescimento do tumor naqueles dois dias, eu tinha mais um mês de vida. Um mês de vida. Definitivamente não é a melhor lembrança da minha vida.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Neste blog irei postar pequeno excertos de um livro que estou escrevendo. A principal ideia por trás deste blog é receber constante feedback de possíveis leitores. E esses feedbacks não cairão em ouvidos surdos. Todas as criticas serão lidas com respeito e atenção. Então, se você gostar da trama do livro, os assuntos tratados e gostaria de ler mais, por favor deixe sua opinião.

Nesta primeira postagem irei publicar o pequeno prólogo dO Colecionador de Memórias.

Um tumor no lobo temporal do cérebro, para muitos, significa o fim dessa jornada chamada vida. Para mim significou exatamente o oposto. Esse tumor, que me rendeu até 15 minutos de fama, trouxe consigo uma nova vida. Uma segunda chance. Não vou ser hipócrita a ponto de dizer que foi fácil. Para ser sincero foi bem difícil. Meu nome é Guilherme e eu sou o Colecionador de Memórias.