segunda-feira, 9 de julho de 2012

Para não perder o costume, mais um excerto dO Colecionador de Memórias.

Mas eu lembrei do que havia acontecido com Cássio. E não tive escolha a não ser perguntar qual a primeira palavra que Joana falou. Mãe, ela respondeu. Perguntei se ela lembrava disso. Se ela lembrava de Joana falando a primeira palavra. E eu vi pela segunda vez segundo meus relatórios, o olhar do mais puro e verdadeiro desespero. Ela não lembrava. O momento mais feliz de sua vida, e ela não lembrava absolutamente nada dele. Eu lembrava. Como se eu tivesse vivido. A mulher de Cássio estava petrificada. Ela tentava, em vão, encontrar uma resposta para seu esquecimento. Ao colocar a mão em seu ombro despido, para tentar consolar ela, senti uma nova tontura. A igreja tinha ficado linda. As flores, os convidados, até o padre estava perfeitamente alinhado. E o meu vestido. Tudo estava perfeito. Olhando fixamente nos olhos de Cássio, dei a resposta mais importante da minha vida. Sim. Eu estava casado.

Nada mais fazia sentido. Primeiro a primeira palavra da sua filha. Agora seu casamento. Estava completamente perdido. Olhava para a mulher de Cássio sem expressão. Ela secou suas lágrimas e se desculpou. Disse que estava cansada, não havia dormido direito. Minha mente está me pregando peças, ela disse. Me convidou para entrar. Eu precisava entender isso melhor. Infelizmente eu tomei a decisão errada. Eu agradeci e entrei em sua casa. Cássio estava em um canto da sala olhando fixamente para sua estante. Chamei seu nome e me aproximei dele. Saindo de um transe, ele olhou para mim com um sorriso e apertou minha mão. E me deu mais uma memória. Ele então, colocou sua mão esquerda sobre a minha mão direita e continuou balançando ela. É claro que sem antes, me presentear com mais uma de suas memórias. As tonturas sumiram.

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