Eu não tenho memória deste olhar. O eu de hoje desconhece
essa visão. Se isto é uma benção ou uma maldição, somente o tempo dirá. Ele
começou a balbuciar algumas palavras. Lágrimas começaram a escorrer de seu
rosto. Ele só conseguiu falar duas palavras. Não lembro. Visivelmente abatido,
ele abriu um sorriso timido e me deu as costas. Chorando silenciosamente, ele
voltou para casa. Eu não entendia o que havia ocorrido. Por que eu tenho essa
memória? Por que ele não lembrava dela? Fiquei o dia inteiro procurando uma
resposta lógica. Sem sucesso é claro.
Acordei no dia seguinte lembrando do nascimento
de Joana. O mais perturbador disso, foi que eu lembrei do nascimento de Joana.
Um dia depois de ter “vivido” a memória. Eu não entendi nada. Depois de ler o
relatório do dia anterior pelo menos a origem da lembrança me foi revelado. Mas
as perguntas continuavam. Aparentemente eu não havia conseguido responder elas
no dia anterior. Resolvi ir na casa deste meu amigo. A mulher dele atendeu a
porta. Ela me reconheceu e me comprimentou com um beijo no rosto. No momento que
seus lábios tocaram minha face, senti novamente a tontura. Então eu lembrei de
quando Joana falou a primeira palavra. Mãe. Eu estava terminando de secar ela,
depois de um banho, quando ela olhou para mim e disse mãe. Fiquei sem palavras.
Uma tímida lágrima escorreu do meu olho esquerdo e eu perguntei para Joana o
que ela havia falado. Mãe ela disse novamente. A minha filha, com aquele rosto
angelical, toda fofa, disse “mãe”. Eu abracei ela e comecei a chorar. Cássio
entrou desesperado, achando que algo grave havia acontecido. Quando contei ele
ficou feliz, mas um pouco decepcionado eu acho. Para mim foi possivelmente o
melhor momento da minha vida. Quando abri os olhos, lágrimas escorriam pelo
rosto. A mulher de Cássio visivelmente confusa perguntou se eu estava bem.
Estou, eu respondi enquanto secava uma lágrima de meu rosto. Na verdade eu
estava muito bem. Aquela lembrança me encheu de alegria e esperança.
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