Depois da perda de memória, eu desenvolvi, por falta de
melhor palavra, uma habilidade. Uma habilidade extremamente interessante. Esta
habilidade foi responsável pela mudança em minha vida. No final de fevereiro eu
estava indo ao mercado e encontrei um amigo na rua. Ao apertar sua mão, senti
uma leve tontura. Ao fechar meus olhos para retomar o eliquibrio, lembrei de um
hospital. Eu estava nervoso. Nervoso e extremamente feliz. Andava em circulos,
roendo as unhas e sorrindo. Imaginando os anos que virião. Era o dia mais feliz
da minha vida. O nascimento da minha filha. Joana foi o nome que eu e minha
mulher escolhemos. Em homenagem a Jeanne D’Arc. Quando o médico entrou na sala
de espera e me deu os parabéns, lágrimas da mais pura alegria escorreram pelo
meu rosto. Eu era pai.
Quando abri os olhos estava chorando. Chorando
do mesmo jeito que chorei aquele dia. E então eu lembrei. Eu não tinha uma
filha. Nunca fui casado. Eu não tenho essa memória. Eu não vivi esse momento.
Larguei a mão do meu amigo e perguntei se ele tinha uma filha. Ele abriu um
sorriso e disse que sim. Que a pequena Joana era a coisa mais importante da
vida dele. Joana. O nome da minha filha. Seus olhos brilhavam. Do mesmo jeito
que os meus olhos brilhavam naquele dia. A simples menção de sua filha, enchia
esse homem de alegria. Perguntei se ele lembrava do parto dela. Ele riu e
respondeu com orgulho que sim. E então eu vi, pela primeira vez ao vivo, o
olhar do mais puro e verdadeiro desespero. Um buraco abriu em meu peito.
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