sexta-feira, 6 de julho de 2012

Mais um trecho dO Colecionador de Memórias.

Depois da perda de memória, eu desenvolvi, por falta de melhor palavra, uma habilidade. Uma habilidade extremamente interessante. Esta habilidade foi responsável pela mudança em minha vida. No final de fevereiro eu estava indo ao mercado e encontrei um amigo na rua. Ao apertar sua mão, senti uma leve tontura. Ao fechar meus olhos para retomar o eliquibrio, lembrei de um hospital. Eu estava nervoso. Nervoso e extremamente feliz. Andava em circulos, roendo as unhas e sorrindo. Imaginando os anos que virião. Era o dia mais feliz da minha vida. O nascimento da minha filha. Joana foi o nome que eu e minha mulher escolhemos. Em homenagem a Jeanne D’Arc. Quando o médico entrou na sala de espera e me deu os parabéns, lágrimas da mais pura alegria escorreram pelo meu rosto. Eu era pai.

Quando abri os olhos estava chorando. Chorando do mesmo jeito que chorei aquele dia. E então eu lembrei. Eu não tinha uma filha. Nunca fui casado. Eu não tenho essa memória. Eu não vivi esse momento. Larguei a mão do meu amigo e perguntei se ele tinha uma filha. Ele abriu um sorriso e disse que sim. Que a pequena Joana era a coisa mais importante da vida dele. Joana. O nome da minha filha. Seus olhos brilhavam. Do mesmo jeito que os meus olhos brilhavam naquele dia. A simples menção de sua filha, enchia esse homem de alegria. Perguntei se ele lembrava do parto dela. Ele riu e respondeu com orgulho que sim. E então eu vi, pela primeira vez ao vivo, o olhar do mais puro e verdadeiro desespero. Um buraco abriu em meu peito.

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