quinta-feira, 5 de julho de 2012

Seguindo o cronograma, segue abaixo mais um trecho do primeiro capítulo dO Colecionador de Memórias.

Eu aprendi que médicos são seres fofoqueiros. Dois dias depois de sair do hospital, meu nome estava em alguns jornais. No dia seguinte nos maiores jornais nacionais. Depois em telejornais e jornais mundiais. Sinceramente, eu, até hoje, não entendo como isso aconteceu. Mas os 15 minutos de fama em si, chegaram na semana seguinte. Faustão, Fantástico, Mais Você. Foi legal. O problema foi quando o meu mês de vida acabou. E eu, obviamente, não morri. Depois de vários exames e mais duas semanas no hospital, recebi uma notícia interessante. O tumor havia parado de crescer. Sem antes trocar meu lobo temporal inteiro com, e eu cito, conexões neurais nunca antes vistas. Conexões estas que foram construidas pelo tumor. E parou. Os médicos ficaram impressionados. O tumor parou com precisão milimétrica. Como se o objetivo dele fosse reconstruir meu lobo temporal. E mais nada. Eu continuei vivo. E bem, devo dizer. Pelos menos por seis meses.

Primeiro foi a memória. Eu consiguia lembrar com perfeição o dia 17 de agosto. O dia 18 de agosto em compensação, não existia em minha memória. Nem o dia 19, muito menos o dia 20. Depois do dia 17 de agosto minha memória se estendia a uma semana atrás. E no começo de setembro, eu comecei a só lembrar o dia de hoje. Eu durmo e esqueço completamente o dia anterior. Pode-se dizer que eu renasço todas as manhãs. Minha sorte é meu gosto por escrever. Apartir do momento que percebi que minha memória estava falhando, comecei a fazer uma espécie de relatório diário. Descrevia tudo o que aconteceu naquele dia. É através desses relatórios que é possível esse relato.

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