Eu aprendi que médicos são seres fofoqueiros. Dois dias
depois de sair do hospital, meu nome estava em alguns jornais. No dia seguinte
nos maiores jornais nacionais. Depois em telejornais e jornais mundiais.
Sinceramente, eu, até hoje, não entendo como isso aconteceu. Mas os 15 minutos
de fama em si, chegaram na semana seguinte. Faustão, Fantástico, Mais Você. Foi
legal. O problema foi quando o meu mês de vida acabou. E eu, obviamente, não
morri. Depois de vários exames e mais duas semanas no hospital, recebi uma
notícia interessante. O tumor havia parado de crescer. Sem antes trocar meu
lobo temporal inteiro com, e eu cito, conexões neurais nunca antes vistas.
Conexões estas que foram construidas pelo tumor. E parou. Os médicos ficaram
impressionados. O tumor parou com precisão milimétrica. Como se o objetivo dele
fosse reconstruir meu lobo temporal. E mais nada. Eu continuei vivo. E bem,
devo dizer. Pelos menos por seis meses.
Primeiro foi a memória. Eu consiguia lembrar com perfeição o
dia 17 de agosto. O dia 18 de agosto em compensação, não existia em minha
memória. Nem o dia 19, muito menos o dia 20. Depois do dia 17 de agosto minha
memória se estendia a uma semana atrás. E no começo de setembro, eu comecei a
só lembrar o dia de hoje. Eu durmo e esqueço completamente o dia anterior.
Pode-se dizer que eu renasço todas as manhãs. Minha sorte é meu gosto por
escrever. Apartir do momento que percebi que minha memória estava falhando,
comecei a fazer uma espécie de relatório diário. Descrevia tudo o que aconteceu
naquele dia. É através desses relatórios que é possível esse relato.
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