segunda-feira, 16 de julho de 2012

Em meus primeiros relatórios, quando comecei a perder a minha memória, eu estava abalado. Eles não detalhavam o dia com a precisão necessária. Na verdade, eles são praticamente desabafos. A tristeza do esquecimento é um sentimento pesado e doloroso. Eu não consigo aprender nada novo. Não consigo conhecer novas pessoas. Minha vida está em suspensão. Me encontro parado no tempo. Eu sou um coadjuvante em Groundhog Day. Com a diferença que apenas minha mente não evolui, meu corpo entretanto, envelhece normalmente. Cada dia que passa é mais uma luta para sobreviver. Acordar de um sono de 20 anos, não é fácil.

Felizmente, eu adoro viver. Esse sentimento aliado com minha habilidade, tem me mantido vivo. Depois de provocar, mesmo que acidentalmente, o suicidio de Carlos e sua esposa, eu resolvi testar minhas habilidades e no processo colecionar algumas memórias. Colecionar memórias. Ouvi esta expressão pela primeira vez com meu avô. Em seu leito de morte, ele pegou em minha mão e disse, com uma voz rouca e debilitada. A única coisa que levamos dessa vida sofrida meu neto, são nossas lembranças. Colecionar memórias. Viver se resume a colecionar memórias. Apertando minha mão carinhosamente, ele abriu um sorriso e fechou seus olhos pela última vez.

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